quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

Maquete ajuda na interação de alunos com deficiência visual.


Em 4 de outubro, a sala de recursos de pessoas com deficiência visual da Escola Estadual Doutor Jovino Silveira passou a trabalhar com um novo equipamento de apoio à interação social e desenvolvimentos dos alunos. Uma maquete que reproduz a região central de Serra Negra faz parte do projeto de educação inclusiva "Toque e Sinta sua Cidade".

Ela tem como objetivo transmitir às crianças com deficiências visuais e demais alunos conceitos e valores sobre o município de Serra Negra, ampliar o potencial de uso do espaço construído, garantindo assim inclusão social e cultural por meio da maquete tátil, com os principais pontos da cidade, com nome de ruas, avenidas, localização de edificações, casas, lojas, bancos, prefeitura e outras referências para orientação especial escrita em braille.

A maquete tátil possibilita a compreensão de um ambiente construído, a percepção do espaço permitindo potencializar o uso das habilidades dos alunos, através de respostas sensoriais com o uso das percepções tátil e cinestésica.

#PraCegoVer: imagem dos alunos manipulando as casas da maquete tátil, sob orientação da pedagoga Adriana Bonilha.



Segundo a reabilitadora e pedagoga visual Adriana Bonilha, o ponto mais significativo do projeto é a real participação de todos os alunos para conhecer a dificuldade na locomoção de pessoas com deficiência, localização dos pontos centrais, ruas, avenidas, bairros e a geografia da cidade. Como a pessoa com deficiência se locomove, as técnicas utilizadas e imagem visual do espaço em que vive. “A maquete é uma ferramenta importante no estudo e análise espacial, uma vez que o volume produzido traz em si todas as características essenciais à percepção de uma edificação.

A proposta deste trabalho é criar um novo uso para a maquete, onde ela deixará de ser puramente visual para ser tateada e explorada por pessoas com deficiência visual, pois, da mesma forma que a leitura em Braille, ela atua como um instrumento educacional, sendo uma das vias de acesso ao conhecimento do espaço que os circunda”, disse a responsável pela iniciativa.

No primeiro momento esse projeto teve o intuito de trabalhar a Orientação e Mobilidade sendo uma área de atuação eminentemente prática que visa estabelecer, de forma concreta, as dificuldades que a pessoa com deficiência visual encontra quanto às barreiras arquitetônicas, andar a pé utilizando a bengala, de transportes e outras, procurando prover recursos para a sua autonomia no contato com o meio para compreender a organização do espaço urbano, de forma a facilitar sua mobilidade pela cidade.

Num segundo momento haverá a participação ativa e efetiva dos alunos, professores das demais disciplinas para trabalhar o conteúdo sobre Comunidade e Município (material permanente que poderá ser utilizado nos demais anos letivos). Participarão também os alunos das Salas de Recursos de Deficiência Intelectual e estendida aos jovens da Guarda Mirim de Serra Negra, principalmente àqueles que residem em zona rural com pouco acesso e informações do centro urbano.

Fontes: http://www.bengalalegal.com/maquete, http://jovinosilveira.blogspot.com.br/2011/12/maquete-tatil-toque-e-sinta-sua-cidade.html.

quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Eu, pessoa com necessidades específicas?



Trago aqui uma re-reflexão de tempos atrás: o mundo é plenamente acessível para mim?

Sou uma pessoa sem deficiência ou não deficiente, de acordo com a terminologia atual. Ainda assim, estive pensando nas dificuldades que tenho no usufruto dos objetos e do espaço ao meu redor. Sou míope e uso óculos desde os sete anos. Já aos onze não conseguia me "virar" sem eles; cinco graus de miopia. Sem óculos, tenho dificuldade em utilizar o computador e sequer posso sair de casa, pois não consigo enxergar carros, semáforos e letreiros de ônibus a menos que estejam bem próximos. Cresci aprendendo a lidar com essa limitação.



#PraCegoVer: desenho de uma pessoa com as pernas bem curtinhas sentada num assento de ônibus, com espaço mínimo para o assento à frente, com os dizeres, em inglês: "This is how bus manufacturers see us", cuja tradução livre poderia ser "É assim que os fabricantes de ônibus acham que somos"





E cresci, mesmo! Tenho 1,87 metro. Nem sou tão alto assim, mas sou alto o suficiente para perceber como o mundo foi feito por e para pessoas um pouco menores que eu. Lavar a louça me causa dor nas costas. Por dois anos morei numa casa cuja porta do banheiro era menor que as outras (por que fazem isso?) e bater a cabeça no batente da porta era algo comum. Utilizo ônibus para ir e vir do trabalho todos os dias. Apenas dois ou três assentos acomodam minhas pernas de modo aceitável. Quando consigo sentar, e o assento não é um desses, sou obrigado e ficar quase em posição fetal, com as pernas bastante dobradas em direção ao corpo.  Há alguns dias, penduraram uma guirlanda um pouco acima da porta do setor aqui no câmpus e, sempre que passo por ela, o sininho tilinta...

Ponderar sobre o que não está adequado para mim tem me ajudado a perceber também o que não é adequado para os outros. Em todos os sentidos, não apenas nas questões arquitetônicas e instrumentais. Como quero ser tratado? Com o que posso contribuir para a comunidade? Como a comunidade pode contribuir comigo? São perguntas que faço e que, aos poucos, vão abrindo minha mente em relação às pessoas com deficiência e outras condições que, infelizmente, colocam-nas em desvantagem hoje.





sexta-feira, 30 de setembro de 2016

A pessoa com deficiência na minha história de vida

Há não muitos anos, as pessoas com deficiência parecia estar num mundo à parte, longe dos olhos (e do coração) de muitos de nós. Ainda assim, desde criança, sempre me vi próximo de pessoas que, no meu singelo pensamento, eram "diferentes" de mim.

Lembro-me das "classes especiais" no antigo primeiro grau. Vez por outra me deparava com coleguinhas com deficiência auditiva comunicando-se em Libras. Também havia aqueles com deficiência visual, alguns cujos olhos me assustavam um pouco. Mas eles sempre estavam perto de mim (ou eu deles). Em Santos, minha cidade natal, no bairro onde morava, havia um CEREX (que existe até hoje, agora chamado Escola Especial Eduardo Ballerini) que atendia a crianças com deficiência intelectual. No caminho para a escola, o Lar das Moças Cegas era outro ponto de referência, ainda mais após instalarem um semáforo com sinal sonoro.

Meu primeiro amigo com necessidades educacionais específicas foi o Cristiano. Estávamos na 4ª série, mas ele já tinha 18 anos e acabara de ser integrado a uma classe regular. Além de colegas de classe, éramos colegas no ônibus escolar. Ele era aficionado pelos heróis japoneses e sempre aparecia com a mais nova edição da Revista Herói. Comemorava ao tirar nota "A" em comportamento (era o único "A" que conseguia, afinal). Os outros colegas aproveitavam-se de sua inocência para pregar-lhe peças. Ótima pessoa. Antes do fim do ano, ele se mudou. Perdemos contato.

Outro grande amigo foi o Evandro, que conheci há vários anos durante uma missão de tempo integral em Santa Catarina. Cadeirante. Ele fora vítima de uma bala perdida havia três anos, mas parecia bastante adaptado em sua condição. Morava "sozinho" e, por isso mesmo, cozinhava, lavava as próprias roupas, limpava a casa e ainda tinha uma companheira canina, a Dorilda. Passávamos lá quase diariamente para ver como estava (e ai de nós se não fôssemos vê-lo!). Um dia, porém, levamos um grande susto. Ele estava febril. Chamamos o SAMU e fomos com ele até o hospital. Ele estava inconsciente na maca. Tememos por sua vida. Ficamos com ele do meio-dia até as oito horas da noite e, felizmente, ele pode voltar para casa no dia seguinte. Infelizmente, também ficamos muito tempo sem contato, apenas nos encontrando recentemente no Facebook.

No Câmpus Guarulhos do IFSP, temos hoje o César, deficiente auditivo. Ele concluiu o curso técnico em Informáticae agora está na Tecnologia de Análise e Desenvolvimento de Sistemas! Ele tem um TILS que o acompanha nas aulas, o Rodrigo. Cada um de nós da Coordenadoria Sociopedagógica ganhou dele um sinal em Libras. O meu sinal é o dedo indicador estendido sob o lábio inferior, como uma postura de "pensador", segundo ele, pelo meu jeito sério e compenetrado ao computador, hehe.

Só agora, porém, coloquei-me a pensar: refletindo sobre todas essas experiências, percebo o porquê de ser tão interessado na educação especial e na inclusão.